domingo, 9 de fevereiro de 2014

HER - Crítica do filme

Theodore (Joaquin Phoenix) em frente ao OS

Acesso o jornal com o meu celular, enquanto espero o ônibus no terminal. Observo que à minha esquerda um adolescente está jogando e à direita uma menina houve música. Outras pessoas se aproximam do ponto. Todas esperando o transporte público. A maioria delas está conectada em seu celular. Falam com alguém, conversam nas redes sociais, jogam ou leem. Ninguém percebe ninguém a sua volta. Estamos todos concentrados demais em ficar sozinhos com nós mesmos. Absorvidos por nossas atividades solitárias.

Lembrei-me disso ao assistir Her (Ela), na noite de ontem. Escrito e dirigido Spike Jonze (Onde Vivem os Monstros). O longa-metragem é um romance de ficção cientifica que conta a história de um escritor de cartas, Theodore (Joaquin Phoenix). Solitário, ele se separou há pouco tempo e está em uma fase de melancolia e sem nenhuma companhia. 

Passando por uma loja, Theodore resolve comprar um novo Sistema Operacional (SO). Uma espécie de consciência humana virtual. Isso lembra, no conceito, o filme Inteligência Artificial do Steven Spielberg, mas diferente na trama, pois Her não tem robôs e é bem mais profundo. As semelhanças dos dois longas-metragens, talvez estejam em especular como seria uma vida artificial se relacionando com os humanos. 

O figurino do filme, como os cenários estão cheios de cores quentes, mas não dão um tom vivo e alegre. Ao contrário, tudo parece triste e artificial. As cenas ao ar livre, talvez destoem um pouco disso, mas em grande parte o filme aparenta uma tranquila melancolia. 

O SO é chamado de Samanta (Interpretada pela voz de Scarlett Johansson). Ela consegue Falar, ouvir e se emocionar com Theodore, sempre pelo celular ou computador. A relação dos dois parece muito com um bate-papo, onde não se vê a pessoa e só se ouve a voz. A parte interessante disso está em como a possibilidade de uma relação, tão impessoal e “distante” se torna “próxima”. Samanta parece preencher o vácuo que ele sentia da separação. 

O filme, em certo sentido parece questionar como as pessoas, muitas vezes parecem estar mais felizes em uma relação virtual, que em uma relação real. A projeção de nossos sentimentos e desejos parece nos agradar mais que a realização dos mesmos. Ao mesmo tempo parecemos estar mais sozinhos e distantes dos que nos cercam. A tecnologia nos impede de perder o contato com o mundo, mas ao mesmo tempo nos distância dele. 

Recentemente li na BBC Brasil, uma matéria de japoneses que tinham relacionamentos virtuais. Alguns dos entrevistados até tinham relacionamentos reais, mas preferiam os da internet. Não indo tão ao extremo, observamos a quantidade amigos que temos na internet. Pessoas que nos conhecem melhor, “online”. Ou quanto de tempo nós passamos em frente ao computador e quanto ele nos tira da realidade e de nós mesmos. 

Afinal, nosso texto escrito, nossos emotions e toda a linguagem da internet transmite o que nós sentimos pensamos e queremos, mas transmite quem somos? Essa resposta, talvez não seja tão simples de responder mesmo após assistir Her.

Um comentário:

  1. Não é meu filme preferido dele, mas a discussão é muito interessante. Gostei da forma como ele estabeleceu a relação entre o homem e suas criações artificiais. Para mim, o drama não está na distância que o homem cria com a "realidade" nesta relação (mesmo porque o mundo virtual é uma outra forma de realidade), mas justamente na possibilidade destas criações o superarem (não falo da máquina dominando o homem, o escravizando e tudo mais, mas de uma superação intelectual e sensível, como sugere Samantha ao lembrar que por não estar condicionada a um corpo poderia estar em qualquer lugar, pois não estava presa a noções de tempo e espaço como o homem, e isso lhe dava um vantagem inatingível). É incrível como é frágil a linha que separa o humano do não humano. Nossos sentimentos são fruto de uma série de reações químicas, e os dela provavelmente de uma série de operações matemáticas. Então o que realmente diferenciava eles? Um corpo. O que nos limita é um corpo. Talvez por isso sejamos essencialmente solitários, incompletos. Por isso criamos.

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